Reproduzo, aqui, recente reportagem da revista Veja, deste final de semana (1° de maio), tirada do site: http://brasilacimadetudo.lpchat.com/index.php?option=com_content&task=view&id=8785&Itemid=1 . Isto porque, não tenho a revista e a versão online da matéria está disponível apenas para assinantes da Veja. A matéria se chama "A farra da antropologia oportunista", sendo que o resultado é um verdadeiro show de preconceitos, desinformação, cinismo e má-fé (para não dizer coisas piores!). Em resposta a reportagem, o antropólogo Eduardo Viveiro de Castro, supostamente já se manifestou contra a revista e a matéria que teria literalmente "inventado" uma fala absurda de Viveiros de Castro, afim de justificar o ponto de vista assustador dos jornalistas de Veja sobre as populações indígenas e quilombolas no Brasil. Sendo assim, reproduzo também esta suposta mensagem que Viveiros de Castro já teria deixado, caso não esteja enganado, na parte de comentários destinada aos leitores online da revista. Faltaria confirmar se, realmente, esta fala é dele. De qualquer forma, fica aqui: "Ao Editores da revista Veja: Na matéria "A farra da antropologia oportunista" (Veja ano 43 nº 18, de 05/05/2010), seus autores colocam em minha boca a seguinte afirmação: "Não basta dizer que é índio para se transformar em um deles. Só é índio quem nasce, cresce e vive num ambiente cultural original" . Gostaria de saber quando e a quem eu disse isso, uma vez que (1) nunca tive qualquer espécie de contato com os responsáveis pela matéria; (2) não pronunciei em qualquer ocasião, ou publiquei em qualquer veículo, reflexão tão grotesca, no conteúdo como na forma. Na verdade, a frase a mim mentirosamente atribuída contradiz o espírito de todas declarações que já tive ocasião de fazer sobre o tema. Assim sendo, cabe perguntar o que mais existiria de "montado" ou de simplesmente inventado na matéria. A qual, se me permitem a opinião, achei repugnante. Grato pela atenção, Eduardo Viveiros de Castro Antropólogo - UFRJ" |
Senhor F
domingo, 2 de maio de 2010
Revista Veja: cada dia mais horripilante. Reportagem "A Farra da Antropologia Oportunista"
sábado, 13 de março de 2010
Só para fumantes…
Sem palavras para descrever o quanto gostei do primeiro conto deste livro, que dá o seu título: “Só para fumantes”, editado pela Cosac Naify. Para os apreciadores de um cigarrinho, leitura obrigatória. Nem vou gastar tempo, tentando falar alguma coisa sobre o conto do escritor peruano Julio Ramón Ribeiro, vou jogar direto um longo teco que já diz muito; ou melhor…tudo:
“Era o objeto em si que me subjugava, o cigarro, tanto sua forma como seu conteúdo, sua manipulação, sua inserção na rede meus gestos, ocupações e hábitos cotidianos [...] Essa reflexão levou-me a considerar que o cigarro, além de ser uma droga, era para mim um hábito e um ritual. Como todo hábito, tinha se somado à minha natureza até fazer parte dela, de modo que tirá-lo de mim equivalia a uma mutilação; e como todo ritual, estava submetido à observação de um rigoroso protocolo, sancionado pela execução de atos precisos e do emprego de objetos de cultos insubstituíveis. Podia assim chegar à conclusão de que fumar era um vício que me fornecia, à falta de prazer sensorial, um sentimento de calma e bem-estar profundo, fruto da nicotina que o tabaco continha e que se manifestava no meu comportamento social através de atos ritualísticos. Tudo isso está muito bem, pensei, era coerente e até bonito, mas não me satisfazia, porque não explicava por que fumava quando estava sozinho e não tinha nada para pensar, nem dizer, nem escrever, nem ocultar, nem aparentar, nem representar. A tirania do cigarro devia ter, portanto, causas mais profundas, provavelmente subconscientes. Longe de mim, por outro lado, me amparar em Freud, menos por ele que por seus exegetas fanáticos e medíocres que viam falos, ânus e Édipos por toda a parte. Segundo alguns de seus divulgadores, o vício do cigarro explicava-se por uma regressão infantil à procura do bico do seio materno ou por uma sublimação cultural do desejo de sucção do pênis. Lendo essas idiotices compreendi porque Nabokov – exagerando, é claro – referia-se a Freud como o ‘charlatão de Viena.
Não me restou outro remédio senão inventar minha própria teoria. Teoria filosófica e absurda, que menciono aqui por simples curiosidade. Imaginei que, segundo Empédocles, os quatro elementos primordiais da natureza eram o ar, a água, a terra e o fogo. Todos eles vinculado à origem da vida e à sobrevivência da espécie. Com o ar estamos em contato permanente, já que o respiramos, o expelimos, o condicionamos. Com a água também, já que a bebemos, nos lavamos com ela e com ela temos prazer em exercícios natatórios ou submarinos. Igualmente com a terra, pois caminhamos sobre ela, a cultivamos, a modelamos com as nossas mãos. Mas com o fogo não podemos ter relação direta. O fogo é o único dos quatro elementos de Empédocles que nos afasta, pois sua proximidade ou contato nos faz mal. O único jeito de nos vincularmos a ele é através de um mediador. E esse mediador é o cigarro. O cigarro permite que nos comuniquemos com o fogo sem sermos consumidos por ele. O fogo está num extremos do cigarro e nós no oposto. E a prova que esse contato é estreito reside em que o cigarro arde, mas é a nossa boca que expele a fumaça. Por meio dessa invenção, completamos nossa necessidade ancestral de nos religarmos com os quatro elementos originais da vida. Essa relação foi sacralizada pelos povos primitivos mediante cultos religiosos diversos, terrestres ou aquáticos e, no que diz respeito ao fogo, mediante cultos solares. Adorou-se o Sol porque encarnava o fogo e seus atributos, a luz e o calor. Secularizados e descrentes, já não podemos mais render homenagem ao fogo a não ser através do cigarro. O cigarro seria assim um sucedâneo da antiga divindade solar, e fumar, uma forma de perpetuar o seu culto. Uma religião, em suma, por mais banal que possa parecer. Daí que renunciar ao cigarro seja um ato grave e dilacerante, como uma abjuração” (pp.50-53).
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Meet the Natives
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Eu, meu cigarro e a lei (parte I)

"O Vegas, uma das casas noturnas mais frequentadas do 'Baixa Augusta', já se adequou à lei. Na entrada os fumantes são identificados com pulseiras. 'Durante a noite, liberamos grupos de 15 pessoas para fumar lá fora', conta Facundo Guerra, proprietário do club" (Casas Noturnas Criam Pulseiras Para Fumantes e Reforçam Segurança, Folha Online, 06/08/09). No entanto, não bastasse as simpáticas pulseirinhas sinalizadoras, a pessoa tem o seu cigarrinho confiscado temporariamente, sob pena de não entrar no estabelecimento. Continua a mesma reportagem: "na entrada, a revista recolhe os cigarros e os devolve somente na saída". De fato, é preciso perguntar para o infeliz dono da casa noturna em que parte da lei, a qual ele se "adequou", está prescrito o uso de pulseiras e o confisco dos cigarros.
Já um outro bar, resolveu usar de um "bom humor" muito estranho para alertar os fumantes sobre a nova lei: "no O'Malley's [...] os seguranças estarão munidos de pistolas d'água 'para apagar, subitamente, o fumígeno ofensivo', como conta o proprietário do pub, Ali Visserman". Mas diz o dono, na maior cara de pau, "a intenção é jogar água somente no cigarro, e não no rosto das pessoas" (Polícia e Pistolas D'Água São Armas dos Bares Para Conter Fumantes, Folha Online, 06/08/2009). Pulseiras, revistas e atiradores de elite munidos de snipers d'água, estes são alguns dos absurdos e das paranóias que estão pautando nossa vida. O pior é que práticas como essas começam a soar normal, tolerável e mesmo desejável. Seria preciso uma paciência e um tempo que não disponho agora para lidar com os significados sociais e políticos destas práticas. Contudo, não deixa de ser assustador perceber como certos valores, quase sempre legitimados por argumentos que remetem a noções de "boa saúde" e assepsia social, estão interferindo e regulando nossa sociabilidade cotidiana. Lógico, isso não é de hoje. Mas o cigarro vem sendo a bola da vez.
PS: A charge utilizada neste post foi tirada do blog do cartunista Rico, onde tem muita coisa legal: http://ricostudio.blogspot.com/
sábado, 19 de setembro de 2009
Lóki: loucura e consagração de Arnaldo Baptista
Nada mais profético. Arnaldo foi gradativamente embolorando, guardado em algum armário que as pessoas deixaram de abrir por um bom bocado de tempo. Lógico, o acidente não foi o único acontecimento que contribuiu para isso. Ele apenas foi o fecho dramático de um processo de loucura que, regado a muito LSD, foi se desencadeando em meio às turbulências e tensões que levaria a duas importantes rupturas: a primeira, com Rita Lee, sua primeira namorada e esposa e , depois, com Os Mutantes. A sequência foi uma série de álbuns solos - mais aqueles junto ao Patrulha do Espaço, nos quais Arnaldo passou a compor músicas cada vez mais insanas e confessionais. A voz grave e irreverente dos tempos de "Posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha meu Rock'n Roll, vai cedendo espaço para uma voz suave e rouca, embalado por um piano quase sempre melancólico. Com Os Mutantes no passado, Sérgio Dias longe da cena musical brasileira e Rita Lee consolidando sua carreira solo, a carreira solo de Arnaldo não duraria muito. Voltou a ser notícia com o acidente para, logo em seguida, sumir novamente, recluso num sítio em Juiz de Fora, onde conseguiu se recuperar de maneira notável, em muito, graças à pintura. E, talvez, continuaria sumido não fosse o (re)descobrimento dos Mutantes por um público influente internacional (entre eles, David Byrne e Curt Cobain) e, agora, por este documentário, o qual busca recuperar a (justa) importância de Arnaldo dentro dos Mutantes, mas também na música e no rock brasileiros em seu conjunto. Uma importância que, inclusive, o documentário busca a todo instante ressaltar através de entrevistas com músicos e experts, nas quais comparam a "revolução estética" empreendida pelos Mutantes com a dos Beatles. Na verdade, isso pouco importa. Suspeito, mesmo, que a comparação é equivocada, uma vez que cada qual atuaram em contextos muito particulares, mobilizando recursos e tradições musicais diferentes.
Insano demais para permanecer em evidência em seu tempo, Arnaldo e sua loucura retornam agora como os elementos que dão força e evidência a sua obra, como justamente aquilo que o transforma, paradoxalmente, no músico "a frente de seu tempo"; o gênio "incompreeendido" e "embolorado" que, injustamente, caiu em desgraça. Certamente será matéria farta na mão de críticos, selos independentes (ou não) e paulistanos descolados, frequentadores de espaços Itaú. Mais uma vez retorna o velho tema do gênio incompreendido e que, infelizmente, continuará a ser incompreendido por ser tratado como alguém que produziu algo que não foi entendido em sua época.